Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Quando os treinadores de bancada são os pais Voltar

 

Parece-me claramente evidente que ultrapassamos uma crise de valores no desporto, seja ele qual for, mas obviamente com mais foco no futebol pela dimensão que acarreta consigo, mesmo nas camadas mais jovens. Podemos culpar todos os agentes, já que a culpa cabe a todos estes. Mas isso significa que enquanto culpamos os outros estaremos sempre a desculpabilizar-nos a nós próprios com o papel que ativamente temos na perpetuação deste problema.

Como podemos exigir a uma criança que pratica desporto para no decorrer de um jogo não insultar o árbitro se esta vir o pai na bancada exaltado a criticar a arbitragem a muitas vezes perder por completo a cabeça? Como podemos nós exigir-lhe que respeite o seu treinador e toda a equipa técnica e staff, se o pai está na bancada a exigir a entrada do seu filho em campo ou se este em casa tentar que a culpa do filho não jogar pertença sempre ao treinador que faz as escolhas e não ao esforço e mérito do filho que tem de merecer que essas escolhas recaiam sobre si? Sim, o desporto educa. Sim, o desporto transmite valores de coletivo fundamentais para os mais jovens. Sim, o desporto é uma ferramenta educacional e social ímpar nas sociedades modernas, como o era antigamente. O problema é quando os agentes do mesmo não cumprem esses desígnios, algo cada vez mais recorrente e banalizado.

É importante que cada um entenda que se o desporto tem regras formais e definidas, significa exatamente neste espetáculo que é e deve ser o desporto cada um tem o seu papel e é a ele que se deve cingir. Ao árbitro caberá apitar e dar o melhor de si, sabendo que não é imune ao erro como ninguém e sabendo que caso não cumpra devidamente com as suas funções pode e deve ser punido por isso. Ao treinador cabe ser justo, responsável e, principalmente nos escalões de formação, procurar o melhor para a sua equipa sem nunca esquecer a importância que tem no desenvolvimento pessoal de cada jogador, neste caso jovens que olham para o treinador como um exemplo a seguir e que tem de facto de o ser e de demonstrar na sua função o exercício dos valores pelos quais pugna. E aos pais, aos pais cabe o papel de apoiarem os seus filhos, enquanto garantem também a sua educação. O árbitro apita, o treinador treina e o pai… bem o pai tem de ser pai. Tem de apoiar, aconselhar, estar disponível, mostrar o que é certo e o que é errado. E deixar o árbitro arbitrar e o treinador treinar. Se o pai quiser arbitrar, torna-se árbitro. Se o pai quiser treinar, torna-se treinador. Até lá, que seja apenas o pai.

E não esquecer o fundamental: o pai que age corretamente é aquele que quando o filho se queixa por não jogar não descarrega no treinador mas ajuda o filho a melhorar para ser o escolhido da próxima vez e o pai que quando o filho critica a arbitragem explica que aos erros todos estamos sujeitos. Porque é esse pai que está a criar outro pai do amanhã. E da forma como todos os pais deveriam ser.

- 17 dez, 2019
- Fernando Gil Teixeira